Há
alguns dias a mídia no Distrito Federal vem noticiando a intenção de
parlamentares distritais em alterar o nome da ponte Costa e Silva, que liga a
602 Sul ao Pontão do Lago Sul. O Projeto de Lei já tramita na Câmara Distrital.
Eu
sou contra a mudança do nome. Não que me agrade a ideia de homenagear o ditador
que em 1975 decretou o AI5 (que entre outras medidas fechava o Congresso)
enquanto o meu hoje marido cumpria pena por crimes contra a ordem social. Mas
me irrita profundamente o nosso desejo de apagar a história, limpar a história,
jogar ácido como se ela não existisse mais. Isto é ruim para a memória de um
povo. É ruim para a democracia neste caso. Não temos a cultura da memória. Um
prédio é velho? Derruba e faz outro no lugar. O cinema é antigo? Derruba e faz
um moderno shopping Center ou uma arrojada igreja evangélica. E a história
daquele lugar? Um povo sem memória é um povo sem futuro. ( A frase não é minha,
mas não sei de quem é.)
Me
lembro de uma história que me marcou para sempre com relação a isto. Em 1996,
na curva do S, em Eldorado dos Carajás, foram mortos 19 trabalhadores Rurais
Sem Terra. Para que a história não fosse esquecida, movimentos de esquerda
ligados ao setor agrário entraram em contato com o arquiteto Oscar Niemeyer que
prontamente se ofereceu a doar um monumento para que fosse colocado no
cruzamento das rodovias Transamazônica e PA 155. O monumento atravessou o
Brasil e por onde passava faziam carreata contando o que ocorrera até chegar ao
local onde do massacre. Menos de um mês depois o monumento foi destruído,
completamente quebrado. Então, os organizadores da mobilização ligaram para
Niemeyer e perguntaram a ele o que fazer, se deveriam colocar outro monumento
no lugar. Niemeyer respondeu: “- Não. Juntem as peças e remontem o monumento.
Deixe que as cicatrizes dele contem o que ocorreu”.
Esta
história serve bem para ilustrar que a memória precisa ser preservada. Para o
bem ou para o mal. Os espanhóis, quando chegaram à cidade do México destruíram o templo asteca que lá
havia e sob ele, e com suas peças, construíram uma catedral católica em cima do
templo. Para que não se esquecessem de quem dominava. Deixaram que a história
contasse o que havia acontecido. Hoje, na Catedral da cidade de Santiago,
partes do chão são de vidro e se vê os destroços do templo asteca. É a história
contando a história.
Portanto,
se for para fazer um memorial dos Diretos Humanos aos pés da ponte têm o meu
apoio. Para trocar de nome e fingir que a história não aconteceu, não.