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terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Diálogo esclarecedor.

Encaminhei o conteúdo do meu último post para o Correio Braziliense e o Gustavo Krieger me respondeu. Segue:

Olá Juliana, sua mensagem me foi repassada pelo jornal. Em primeiro lugar, agradeço pela leitura crítica e qualificada. Usei alguns recursos de linguagem para tornar a leitura mais leve e talvez não tenha sido feliz. Quando falei em tradução da expressão "herança maldita" me referi ao fato dela ser usada por políticos brasileiros de todos os partidos e matizes, sempre que querem responsabilizar o antecessor por seus problemas. Mas ninguém aqui enfrentou uma herança tão pesada quanto a que George W Bush deixou para Obama.Também não quis me referir com desprezo ao presidente Lula. Quando escrevi a coluna, o governo brasileiro fazia um enorme esforço para colocá-lo em contato com Obama. Não deveria ter dito "se ele conseguir falar", mas "quando ele conseguir", uma vez que era óbvio que o encontro aconteceria. Agradeço pelo puxão de orelhas.Se você acompanha minhas colunas verá que não me alinho aos que sempre criticam ao governo. Nem aos que elogiam o tempo todo. Mantenho minha independência e julgamento próprios.E conto com ótimos leitores para me avisar dos deslizes. Mais uma vez, obrigado. E a convido a ler meu blog na página do Correio. Gustavo Krieger

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Cuidado com a língua

No dia da posse de Barak Obama, Gustavo Krieger tratou do assunto na sua coluna no Correio Braziliense. Ele que neste período tem se dedicado à sucessão no Congresso Nacional falou sobre a esperança depositada no novo presidente norte-americano e que não se deve esperar muito do dirigente, visto que o cenário que se apresenta não é dos mais simples. Gostei da coluna.
Mas lá pelas tantas, quase no final, ele fez uma provocação indigna do texto. Disse que se caso o presidente Lula tivesse, algum dia, a chance de falar com Obama, poderia pedir ao tradutor para verter para o inglês a expressão "herança maldita" que o presidente tanto disse logo depois da posse. E disse que na verdade quem tem uma "herança maldita" é Obama. Lula não tinha.
Discordo do conteúdo. Lula pegou um país quebrado, com crescimento negativo quando a economia mundial ia bem e o colocou para crescer, reduziu desigualdades e melhorou a qualidade de vida. Mas mais grave que isto a provocação revela o preconceito. Hoje Barack Obama ligou para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e conversaram durante 25min. Acho que o tradutor teve que verter mais que a expressão "herança maldita" e Gustavo Krieger não deve estar bem. Aliás, durante a semana Obama disse que a esperança venceu o medo. Acho que Lula deve ter esboçado um sorriso.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Então é Obama!

Assisti pela HBO no domingo o show We are one, uma homenagem ao presidente eleito dos EUA, Barack Obama. Lindo! É incrível a esperança que o mundo tem depositado no primeiro presidente negro do maior império do mundo ( que anda ruindo). Eu torci, do meu jeitinho aqui, para que ele ganhasse. Há 40 anos aquela sociedade doente matava Marty Luther King Jr. Não se pode negar a transformação social pela qual ela passou. Mas isto não me deixa mais otimista em relação ao mundo. Obama foi eleito presidente dos EUA, não do mundo. E ele pega um país em franca decadência, passando pela maior crise financeira desde 29. É bom lembrar que eles saíram inteiros do outro lado e os custos todo mundo conhece. Mas desejo sorte ao neguinho lindo!
Não posso deixar de comentar e reverenciar a atitude de Bono Vox. Ele em sua apresentação fez menção ao povo palestino e disse que eles têm um sonho. Gostei bem muito.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Quão bons podemos ser.

Entre as leituras do fim do ano passado está um livrinho delicioso de Oscar Wilde, A Alma do Homem Sob o Socialismo. O livro de Wilde mais que uma análise sobre os possíveis caminhos pelos quais o socialismo levaria o homem é um convite à liberdade. Ele acredita que livre da obsessão capitalista, da propriedade privada o homem será livre para ser ele mesmo e buscar a sua vocação e, com isto, dará ao mundo o melhor de si.


E legal que eu o li logo após "A insustentável Leveza do Ser", do tcheco Milan Kundera. O livro retrata relações que nos fazem ver que tudo que nos é bom pode se tornar um peso. É o caso da relação entre Teresa e Tomas, personagens centrais do livro. Teresa tem tanto amor por Tomas que chega a ter pesadelos e viver de forma doentia diante das traições que Tomas não consegue evitar. E não consegue evitar mesmo, assim, bem machista. Porque ele sofre com as próprias traições e sente tanto peso que mal se encontra com as amantes e já se sente culpado e mal por estar ali. Mesmo assim a trai. O mesmo ocorre com o regime político. A Tchecoslováquia fazia parte do bloco da antiga URSS, do Pacto de Varsóvia. Mas, durante a primavera de Praga, gozou por um brevíssimo período de liberdade, aceitando até algumas críticas ao regime. Após a invasão da URSS, tudo mudou. E o que poderia ter sido um regime, como li no livro de Wilde e como Kundera defende, voltado para a liberdade, o retorno do obscurantismo faz com que médicos possam ser transformados em lavadores de janela porque se colocaram, em algum momento, contra o regime. Tudo que é leve pode se tornar absurdamente pesado. Recomendo os dois livros ;)

sábado, 3 de janeiro de 2009

Livros, livros e mais livros

O recesso de fim de ano foi providencial para colocar leituras em dia. Além do mais, eu estava em Buenos Aires e ler sentada nos cafés da Recolleta, da Callao ou da Calle Florida tem um sabor especial. Li muito e tomei muito chocolate quente.
Estava terminando o "Abusado", do jornalista Caco Barcellos, quando cheguei à terra portenha. Terminei. O livro é muito bem escrito, assim como o Rota 66, e revelador. A violência na favela existe pela completa ausência do Estado. O texto mostra que a opção dos jovens pelo tráfico é a opção por uma vida, acreditem, melhor. Me chamou a atenção um personagem do livro, que tinha os pés tomados por feridas causadas pela ausência de sapatos, mas principalmente de saneamento. Custava U$70 a instalação, na casa de seus pais, de uma rede de canos que levassem o esgoto para fora de casa e retirar parte da umidade que passava para dentro do barraco. Os pais trabalhadores não tinham esse dinheiro. Ele entrou para o tráfico onde o menor salário era de U$300. O personagem central do livro era um bandido preocupado com causas sociais, tinha apreço pela leitura, por Che Guevara, pelo Sendero Luminoso e quando quis deixar o crime foi ajudado pelo cineasta João Moreira Salles. O livro me atraíu menos que o Rota 66. Talvez porque tenha mostrado que a corrupção é generalizada. Desde a polícia que atua nos morros e vende armas para os bandidos, enfermeiros que ajudam em fugas, carcereiros, médicos... Todos têm um preço. As políticas públicas não sobem o morro. No final do livro, publicado em 2003, a critica do Juliano VP, o dono do Santa Marta cenário do livro, era a de que os traficantes tinham deixado a sua função inicial, que era dar apoio às famílias da comunidade no que o estado era ausente e com isto perderam o apoio dos moradores para acobertá-los.
A leitura dos dois livros do Caco é indispensável para quem quer conhecer um pouco da realidade pobre brasileira.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Ano novo é tempo de promessas.

Nesta ano novo prometo postar com mais freqüência. Ao menos três vezes por semana. Apareçam.

Chorarei por ti, Argentina!

Passei dez dias em Buenos Aires. Fiquei encantada com a cidade. Sua arquitetura que mistura o antigo e algo de novo, seus cafés e restaurantes, museus interessantíssimos e centros culturais mil, despertaram em mim uma grande paixão. Não imaginei que o país vizinho tivesse tais atributos. Sempre vi o país vizinho com um pouco de despeito.

A minha completa ignorância sobre o que eu encontraria na Argentina evidencia o grande desconhecimento que ainda nao superamos sobre a América Latina. Pouco estudamos a vida e a cultura dos países vizinhos. Sabemos muito sobre os Estados Unidos e o ocidente Europeu. Faz parte da nossa condição de colonizados. Lá talvez eles saibam um pouco mais de nós. É um país assaz culto. O acesso ao curso superior é quase universal e hoje, em tempo de crise provocada pelo desparate neoliberal, eles tem uma taxa de desemprego de 10%. Já foram a 6a economia do mundo.
Pretendo estudar mais sobre este país e, principalmente, voltar mais vezes lá. Já choro de saudades por ti Argentina.