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segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Do amor e outros sabores


Ao se entregar à “Como água para Chocolate” de Laura Esquivel, o leitor faz uma viagem a um dos gêneros mais ricos da literatura do continente: a literatura fantástica. Mas não é só isto, o livro mostra a força das tradições familiares, dos amores impossíveis e dos temperos.

A narrativa mistura receitas culinárias e a história do impossível amor de Tita e Pedro. Tita era a filha mais nova de uma família matriarcal mexicana, numa cidade do interior, divisa com os Estados Unidos. Por ser a mais nova, Tita não deveria se casar e sim ser responsável pelos cuidados com a mãe. Ocorre que Pedro se apaixonou por ela e para ficar próximo à sua amada, casou-se com a irmã dela, ofertada a ele por mamãe Helena.  A irmã, claro, não recebeu o amor que lhe era devido e a mãe nunca perdoou Tita por contestá-la nesta decisão.

A fantasia da narrativa fica a cargo das histórias vindas da cozinha. Tita, que é a responsável da família pela cozinha, consegue passar para os pratos que prepara todos seus sentimentos e as pessoas que experimentam a comida, passam a se sentir como Tita. Assim ela estabelece a relação com o amor de sua vida, Pedro.

O final faz parte do romance romântico, se não é feliz, também não podemos dizer que é de todo infeliz. Tita põe fim a sua vida quando seu grande amor morre, mas ao fazê-lo se encontra com ele e se unem.

As receitas descritas no livro fazem parte da tradicional culinária mexicana, com muito tempero e predomínio do Chile.

É impossível ao ler “Como água para Chocolate” não pensar em “Afrodite”, de Izabel Allende. Embora as diferenças sejam evidentes, a primeira é uma narrativa fantástica a segunda um retrato quase bibliográfico, a descrição da alimentação na vida das pessoas é tema comum para ambas.  Os dois são deliciosos. Recomendo! 

Serviço: 
Como água para chocolate
Larua Esquivel
Tradução: Olga Savary
Editora: Martins Fontes 
205 pgs.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Papel Manteiga para embrulhar segredos



O que você está disposto a fazer para ser chefe de cozinha? Quanto de desprendimento é necessário para ser chefe de cozinha?  O livro Papel Manteiga para embrulhar segredos – cartas culinárias de Cristiane Lisboa - conta o esforço feito por uma adolescente (18 anos) para se tornar chefe de cozinha. Ela sai de seu país (que não se sabe qual é) e vai para outro (igualmente não citado) e perde contato com o seu mundo para aprender a cozinhar com a dona de um restaurante que tem duas mesas e uma fila de espera de anos. O único contato que a narradora Antônia, mantém com sua antiga vida, são as cartas que ela escreve para a bisavó, Ana.

O desenrolar da história, sempre permeado por deliciosas receitas, nos é apresentado como uma refeição: primeiro a entrada, onde ela conta sua estréia na cozinha da Senhorita (o maiúsculo do S foi dado pela autora do livro), suas primeiras tarefas e dia-a-dia. Depois o prato principal, onde as coisas de fato acontecem. Ela aprende como preparar os pratos, ouve os ingredientes, aprende a plantá-los e colhê-los. E em seguida somos brindados pela sobremesa, onde a história desencadeia e tem um fim harmônico, não previsível, mas esperado.

E nestas cartas culinárias temas complexos são tratados de forma sensível e delicada. O preconceito com quem faz a escolha deliberada de cozinhar num mundo em que a negação ao machismo faz com que as mulheres se afastem da cozinha; a necessidade de viver, de sentir as paixões da vida para ser um profissional melhor.

O livro é uma deliciosa viagem. Vale a pena ser lido.

Serviço:

Papel Manteiga para embrulhar segredos – Cartas Culinárias
Autora: Cristiane Lisboa
Editora: Memória Visual