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segunda-feira, 28 de julho de 2008

As benevolentes

Acho uma atrocidade matar pessoas por sua raça, cor, credo ou qualquer outro fator discriminatório. Porém há uma super-exploração da catástrofe que se abateu sobre os judeus durante a segunda guerra mundial. Morreram 6 milhões de judeus, 10 milhões de poloneses e 20 milhões de russos. Mas só se fala da questão judaica. Infelizmente não é novidade que povos sejam exterminados ao bel prazer de alguns tiranos, vide Afeganistão e o Iraque para sermos contemporâneos. E todo ano é lançado um livro, um filme, documentários sobre a questão judaica na segunda guerra. Eu desde a Lista de Schindler do Spielberg, não vejo e nem leio mais nada sobre o holocausto. Porém me deparei com um livro de título intrigante e capa belíssima, toda vermelha: As benevolentes de Jonathan Littell.
Jonathan é um judeu americano de origem polonesa, seu pai é o renomado escritor Robert Littell. As benevolentes é a primeira obra de Jonathan, tem quase mil páginas, ganhou o prêmio Goncourt e o prêmio da Academia Francesa em 2006. Ou seja, o rapaz começou bem.
O livro narra a autobiografia do personagem Maximilian Auê, um oficial da Schutzstaffel, tropa de elite nazista. É fictícia, mas muito bem fundamentada e documentada. Conta de maneira detalhada como as coisas aconteciam. Como as pessoas não pensavam no todo e apenas “cumprindo ordens” produziram o massacre que conhecemos. Maximilian esteve presente nos momentos cruciais e com pessoas importantes dentro do xadrez nazista dos acontecimentos.
Auê era um oficial que entrou para a SS muito mais por seus problemas pessoais do que por convicções nazistas. Ele até acreditava que os judeus eram seres inferiores, mas não pensava exatamente nisto ou que por isto eles devessem ser mortos. O romance mostra como até mesmo oficiais alemães, como o lingüista Voss amigo de Auê, contestavam esta teoria e que havia outros, como o dr. Hohenegg, que não estava a par do que acontecia, simplesmente fazia o trabalho dele sem se perguntar qual o destino dos judeus, poloneses e os “vermelhos”depois que eram presos e que saíam do front.
A formulação do personagem Maximilian é que não é simples viver um período de guerra e que ninguém faz o que os alemães fizeram sem que o mundo soubesse. Não é uma tentativa de justificar os atos, mas de mostrar o que já sabemos e nunca questionamos, ou ao menos a maioria de nós, que a história é escrita pelos vencedores. Segundo o oficial é simples criar um tribunal e julgar pessoas com leis criadas depois dos crimes cometidos e mais, para julgar os vencidos. Como seria a história se a Alemanha tivesse ganhado a guerra? Eichmann, que no livro é retratado como um funcionário limitado, uma pessoa comum – uma referência ao Eichmann em Jerusalém da Hannah Arendt - teria sido condenado? Estaríamos lamentando os 6 milhões de judeus ou estes números, que o livro faz uma relação número de mortos/hora de guerra, seria contado apenas como “mal necessário”? Para Auê as pessoas faziam o que todo mundo faz no seu dia-a-dia, cumprem sua função. Em determinado momento do livro ele afirma: “Se você nasceu em um país ou uma época em que não apenas ninguém vem matar sua mulher e seus filhos como ninguém vem lhe pedir para matar as mulheres e os filhos dos outros, agradeça a Deus e vá em paz. Mas nunca tire isso da cabeça: pode ser que você tenha mais sorte que eu, mas não é melhor.”
A trama é permeada por acontecimentos da guerra e a guerra pessoal do oficial. Filho de mãe francesa e pai alemão que servira na primeira guerra e depois abandonou a família, ele odeia a mãe por ter se casado com outro homem depois do desaparecimento do pai e mantinha, quando criança e adolescente, um relacionamento incestuoso com a irmã gêmea. Por ter prometido à irmã que não teria outra mulher, mantinha relacionamentos homossexuais.
O livro é interessantíssimo. Os acontecimentos pessoais não o deixam ser maçante, visto que é denso. E os episódios de batalhas, como Stalingrado, e as atrocidades contadas não deixam passar despercebido o valor histórico do livro. Jonhatahn Littell começa sua carreira muito bem. Já espero o próximo livro do autor.
Voltarei, depois, a outros aspectos do livro.
Serviço:
As Benevolentes
Jonathan Littell
Alfaguara/Objetiva, 2007
912 páginas, R$ 79,00

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Férias de Julho

Viajei nos últimos dias. Conheci Gurupi, que fica no Tocantins. É sem dúvida o lugar mais que eu já visitei. Mas há um movimento turístico na região que chama a atenção.

Gurupi, bem como Porto Nacional e Palmas, cidades que eu visitei desta vez, ficam às margens do Rio Tocantins. O site Wikpédia informa que o Tocantins é o maior rio totalmente brasileiro, com 2.600 km de extensão. Fui conferir o dado e o mesmo site me diz que o São Francisco tem 2.800 Km de extensão. Como não tenho à mão outra fonte de informação, fiquemos com a dúvida. Hoje funcionam ao longo do Tocantins cinco hidrelétricas: Serra da Mesa, Cana Brava, São Salvador, Lajeado e Tucuruí. Outras duas estão em construção: A do Peixe e a de Estreito. Ainda há a de ipueira, que teve a sua construção suspensa.

No Peixe, ainda há uma praia natural e linda. É muito bonito e há uma estrutura adaptada para o recebimento de turistas. Uma balsa, que custa R$ 5,00 ida e volta, te atravessa da margem do rio para uma ilha que é um banco de areia. Lá há várias barracas que oferecem de tudo, de comida e bebida a uma pousada. Os banheiros são químicos e há uma ampla área para camping. Confesso que o excesso de barulho do sistema de som não me agradou e daí fui para a beira do rio, estiquei minha canga e aproveitei a bela paisagem sem música alguma.

Já em Porto Nacional, uma cidade que comemorou no último dia doze, 270 anos de história e 147 de emancipação, a barragem do Lajeado fez com que o rio formasse um grande lago e as altoridades locais têm feito um esforço para recuperar o turismo no local. Criou-se uma praia artificial com uma infra-estrutura invejável . Além disto a cidade conta diversos pontos turísticos, como a catedral, belíssima, construída em 1884.

É bom conhecermos o interior do país. Nos reserva belas surpresas.