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quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Intenso retorno

Já não tem mais graça falar que não tenho tempo. Eu não o tenho mesmo. E não o terei tão cedo. Então o que preciso é me organizar para viver com o tempo disponível.


Tenho lido pouco, pouco ido ao cinema e pouco conversado com amigos. Tem sido um ano duro. Mas, aos poucos, rendo-me a memória de um tempo mais calmo e constato que nada vale mais que ler um bom livro, beber um bom vinho, conversar sobre nada (miolo de pote, como diria o Hamilton) com bons amigos e, sobre tudo, com alguns.

E, entre as pequenas conquistas, está a leitura, rapidíssima, de um livro cujo título há tempos me intrigava.

“Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios”, do Marçal Aquino, é tão bom quanto o título. Conta a história de um fotógrafo, que recebe uma bolsa para produzir um livro sobre personagens do Brasil. Ele chega ao no interior do Pará, numa área garimpo, e se apaixona intensamente pela mulher de um pastor, de longe, o melhor personagem do livro. Um homem muito mais velho que ama a esposa e que vive exatamente o que prega.

Mas, antes de tudo, é um livro sobre a tênue linha entre a paixão e a loucura. Quase todos os personagens ultrapassam essa linha em algum momento. Seja a dona da pensão onde o personagem central acaba indo viver que, mesmo naquele calor infernal, usa manga cumprida para esconder o nome de um ex-amor tatuado no braço. Ou outro morador da pensão, funcionário do Banco do Brasil, que saiu de uma capital do nordeste para acompanhar a paixão da vida dele, que não o amava e acabou se matando. Ou o chinês dono de um comércio local que é assassinado por ser obcecado por jovens homens nus.

Recomecei em grande estilo e já estou com o Roberto Bolaño, 2666. Depois conto tudo.

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