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sábado, 3 de janeiro de 2009

Livros, livros e mais livros

O recesso de fim de ano foi providencial para colocar leituras em dia. Além do mais, eu estava em Buenos Aires e ler sentada nos cafés da Recolleta, da Callao ou da Calle Florida tem um sabor especial. Li muito e tomei muito chocolate quente.
Estava terminando o "Abusado", do jornalista Caco Barcellos, quando cheguei à terra portenha. Terminei. O livro é muito bem escrito, assim como o Rota 66, e revelador. A violência na favela existe pela completa ausência do Estado. O texto mostra que a opção dos jovens pelo tráfico é a opção por uma vida, acreditem, melhor. Me chamou a atenção um personagem do livro, que tinha os pés tomados por feridas causadas pela ausência de sapatos, mas principalmente de saneamento. Custava U$70 a instalação, na casa de seus pais, de uma rede de canos que levassem o esgoto para fora de casa e retirar parte da umidade que passava para dentro do barraco. Os pais trabalhadores não tinham esse dinheiro. Ele entrou para o tráfico onde o menor salário era de U$300. O personagem central do livro era um bandido preocupado com causas sociais, tinha apreço pela leitura, por Che Guevara, pelo Sendero Luminoso e quando quis deixar o crime foi ajudado pelo cineasta João Moreira Salles. O livro me atraíu menos que o Rota 66. Talvez porque tenha mostrado que a corrupção é generalizada. Desde a polícia que atua nos morros e vende armas para os bandidos, enfermeiros que ajudam em fugas, carcereiros, médicos... Todos têm um preço. As políticas públicas não sobem o morro. No final do livro, publicado em 2003, a critica do Juliano VP, o dono do Santa Marta cenário do livro, era a de que os traficantes tinham deixado a sua função inicial, que era dar apoio às famílias da comunidade no que o estado era ausente e com isto perderam o apoio dos moradores para acobertá-los.
A leitura dos dois livros do Caco é indispensável para quem quer conhecer um pouco da realidade pobre brasileira.

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